Car Magazine | Escrito por José Antonio Leme
Costumo dizer que o Nissan Sentra é um daqueles carros injustiçados. No último mês de janeiro, o modelo teve 629 unidades emplacadas segundo dados da Fenabrave, contra 3457 exemplares, no mesmo período, do carro líder do segmento. O que acontece, ele não tem qualidades pra enfrentar os concorrentes? Muito pelo contrário, o Sentra 2.0L SL tem qualidades para brigar com todos os concorrentes do segmento e até ser melhor que alguns deles.
O visual do Sentra é controverso para o público brasileiro, ainda muito conservador. Com linhas moodernas, sua carroceria transmite, a que vê o carro de fora, a aparência de um carro musculoso. Imagem essa que é gerada pela linha de cintura alta e que vem em ascendente do farol até a altura do porta-malas e que dá a ele uma aura esportiva.
De frente e de traseira, o carro mantém a conformidade com seu design de linhas retilíneas, inclusive no formato de faróis e lanternas. Tratando dessas partes, é bom dizer que o farol cumpriu e bem com seu papel, enquanto a ressalva fica para as luzes de posição que são as luzes de seta e para as lanternas no padrão "norte-americano", onde as setas são vermelhas e dentro das luzes de freio, o que não permite uma boa visualização da sinalização, principalmente durante o dia.
A versão mais completa, 2.0L SL, é puro conforto internamente. Os confortáveis bancos revestidos em couro, não me deixaram cansar no trânsito da capital e nem mesmo na volta, sempre congestionada, de uma descida ao litoral. O primor do acabamento é louvável, já que conta com couro nas portas e vidro elétrico também para quem vai atrás. Porta-objetos são abundantes no habitáculo e todos ao alcance das mãos. O teto solar elétrico tornou-se apenas um luxo desde a chegada dos tetos panorâmicos.
O sistema de som do carro merece um episódio a parte. Fornecido pela Rockford Fosgate, com uma tela de LCD de 4,3" e botão dedicado ao iPod, que tem entrada USB dentro do porta-objetos no console central, o sistema tem ainda uma entrada auxiliar junto a tela, rádio AM/FM e cd player com MP3. Os auto-falantes, bem dispostos no interior do veículo dão uma sensação perfeita para qualquer tipo de música, principalmente com os vidros fechados.
O painel de instrumentos é bem localizado e oferece excelente leitura das funções analógicas, inclusive a noite, quando a iluminação alaranjada entra em ação. O calcanhar de aquiles é o computador de bordo, porque o botão para acionar as funções fica no próprio painel, fazendo com que o motorista tenha que enfiar a mão por dentro do volante para chegar nele, mas é completo, oferecendo todas as funções. O volante, revestido em couro, proporciona boa empunhadura e tem comandos de som e do controle de cruzeiro - muito útil por sinal - nele.
E o trem de força? É aí que reside o supra-sumo desse carro. A versão SL é equipada com motor quatro cilindros 2.0L de 143 cv com gasolina ou etanol associada ao câmbio automático Xtronic CVT (Continuous Variable Transmission), que proporciona, além do conforto na condução, sem trancos na troca de marcha, uma economia considerável de combustível. O carro, a 120 km/h está com o motor girando em 2.500 rpm sempre, enquanto em um câmbio comum, automático ou manual, estaria em torno de 3.500 rpm. A única perda desse conjunto fica no fato de que ele não tem uma função Sport e tem uma demora, nada fora do normal, na resposta ao pedido de marcha.
A suspensão, do tipo independente do tipo McPherson com barra estabilizadora na dianteira e eixo de torção com barra estabilizadora e molas helicoidais preza sempre pelo conforto e não pela esportividade, apesar disso, o carro tem pouca rolagem de carroceria nas curvas e absorve e neutraliza bem as imperfeições dos nossos pisos ruins.
Para as malas, o espaço de 442 litros é suficiente. Apesar de ser curto, o porta-malas é alto, o que culminou em um vidro traseiro com pouca visibilidade, problema resolvido pela câmera traseira que é acionada automaticamente quando se engata a ré.
Ainda que tenha muitas qualidades, o Sentra erra em pequenos detalhes, como os vidros que não sobem e nem o teto se fecha ao acionar do alarme e o farol que não desliga ao desligar o carro. São pequenos detalhes e comodidades que o no dia-a-dia você começa a sentir falta e pode se acostumar com a falta, mas não é nada que desabone as qualidades que o Sentra tem, como a chave I-Key, onde o motorista não precisa tirar a chave do bolso pra nada, nem acionar o alarme ou ligar o carro.
Por R$ 71.290, o Sentra 2.0L SL tem qualidades para brigar com qualquer outro sedã da categoria que esteja a venda no Brasil atualmente. Tem pequenas falhas, que não desabonam as boas características e todo o conforto oferecido pelo carro. Como explicar as apenas 629 unidades vendidas então? A Nissan tinha rede de concessionárias pequena e pouca proximidade com o consumidor, mas isso está mudando, Carlos Ghosn CEO da Nissan quer 5% do mercado nacional para a marca japonesa e para isso tem investido pesado. Comerciais, mídias sociais e aumento da rede de concessionárias, para que o público consiga conhecer o bom produto que a marca japonesa tem a oferecer.